terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ESPAÇO INTERIOR - FOCANDO O VAZIO






Meus queridos amigos, sejam abençoados em corpo, alma e espírito. O caminho de vocês é abençoado, passo a passo. Há ocasiões em que vocês talvez duvidem disso, quando a caminhada fica difícil. Mas quando isso acontece, não é porque vocês não recebam bênçãos. É porque vocês se deparam com paisagens interiores que precisam atravessar. 

Para atravessar paisagens interiores difíceis é preciso entender seu significado em termos do seu próprio ser e, assim, eliminar os duros obstáculos encontrados no caminho.


Discutimos algumas vezes essa paisagem interior. Mencionei o espaço interior que é o mundo real. Atualmente, o termo “espaço interior” é usado com muita freqüência no mundo de vocês, em contraposição ao espaço exterior. A maioria dos seres humanos pensa no espaço interior como uma simples descrição simbólica do estado de alma de uma pessoa. 

Não é assim. O espaço interior é uma vasta realidade, um mundo real. É, de fato, o universo real, enquanto o espaço exterior não passa de uma imagem especular, de um reflexo. É por isso que ele não pode nunca ser totalmente compreendido. A vida nunca pode ser verdadeiramente entendida e absorvida pela experiência quando é vista do exterior. É por isso que é tão frustrante, e às vezes tão assustadora para tanta gente.


Sei que é difícil entender como o espaço interior pode ser um mundo em si mesmo -- O mundo. A razão dessa dificuldade é também o continuum limitado espaço/tempo da realidade tridimensional de vocês. Tudo que vocês vêem, tocam e experimentam é percebido de um determinado ângulo muito limitado.


 A mente está focada, acostumada, condicionada a operar em um determinado sentido sendo, portanto, incapaz a esta altura de perceber a vida de qualquer outro modo. Mas isso não significa que esse modo de perceber a realidade seja o único, o correto ou o completo.


Em toda doutrina espiritual a meta é perceber a vida desse outro modo, do modo que vai além do reflexo externo, que enfoca novas dimensões a serem descobertas no espaço interior. Esse objetivo pode não ser mencionado diretamente, ou pode nunca ser mencionado como tal. 


Mas quando se atinge um determinado ponto de desenvolvimento e purificação, essa nova visão desperta, às vezes de súbito, às vezes aos poucos. Até mesmo a subitaneidade é apenas uma ilusão, porque na verdade é o resultado de muitos e árduos passos e batalhas interiores.


A ciência nuclear já reconheceu que todo átomo é uma duplicação do universo exterior, como vocês o conhecem. Esse é um fato muito significativo. Se vocês conseguirem imaginar que, assim como tempo é uma variável, dependente da dimensão a partir da qual é experimentado, o espaço também é. 


Assim como na realidade não existe um tempo objetivo, fixo, também não existe um espaço objetivo, fixo. O ser real de vocês pode viver, respirar e 
movimentar-se, e cobrir enormes distâncias dentro de um átomo, de acordo com a sua medição exterior. Quando o espírito se retira para o mundo interior, a relação de medida muda, assim como muda a relação com o tempo.

 É por isso que vocês parecem perder contato e deixar de perceber as pessoas chamadas “mortas”. Elas vivem na realidade interior que, para vocês, ainda é apenas uma abstração. A verdadeira abstração é o espaço exterior.


Quando ocorre a morte física, o espírito, aquilo que está vivo, retira-se para o mundo interior e não, como muitos supõem erradamente, para o céu. Ele não se eleva do corpo, ele não flutua no espaço exterior. Se, às vezes, uma percepção extrasensorial parece revelar tal visão, trata-se mais uma vez apenas da imagem especular do acontecimento interior. 


Da mesma forma, a maioria dos seres humanos, durante muitíssimo tempo, colocou Deus no céu. Quando Jesus Cristo veio, Ele ensinou que Deus vive nos espaços interiores, é aí que deve ser encontrado. É por isso também que todas as práticas e exercícios de meditação focam o espaço interior.


Há muito tempo sugeri um exercício de meditação em que vocês não pensam, em que vocês se esvaziam. Aqueles de vocês que tentaram fazer esse exercício viram como ele é difícil. A mente está cheia de seu próprio material e fazê-la calar, não é tarefa fácil. Existem várias abordagens para fazer isso. 


Nas abordagens orientais, isso normalmente é feito mediante uma longa prática e disciplina. Isso, em conjunto com a solidão e a quietude exterior, pode acabar gerando quietude interior. 
A abordagem usada em nosso caminho é diferente. Esses ensinamentos não querem tirar vocês do mundo – muito pelo contrário. 

A meta é estar em seu mundo da melhor maneira possível – entender, aceitar, e criar nele da maneira mais produtiva e construtiva. Isso só pode ser feito quando vocês se conhecem e se entendem plenamente. Como eu disse, quando vocês atravessam os espaços difíceis tornam-se mais bem equipados para funcionar nessa realidade tridimensional. Nessa situação, não há divisão entre espaço interior e exterior. 


Quando a verdade interior reina, a percepção da verdade exterior aumenta. Conforme o entendimento do eu aumenta, assim aumenta o entendimento do mundo. Quando vocês aprendem a recriar aquilo em vocês que é imperfeito, falho, aprendem a recriar sua vida exterior. Quando vocês passam a conhecer a sua beleza interna como manifestação divina, também a sua visão da criação se expande e percebe a beleza do Criador e Sua criação. 


Quando existe paz em seu íntimo, vocês também ficam em paz com este mundo, por mais experiência indesejável que exista à sua volta. Em outras palavras, vocês não precisam de condições externas de retiro absoluto para atingir o espaço interior. Vocês tomam outro rumo, pelo qual vão direto até o que parece ser a maior das obstruções: as imperfeições em vocês e à sua volta. Vocês as encaram, lidam com elas até elas perderem o aspecto assustador. 

Esse é o caminho de vocês.

O enfoque no vazio interior pode ser um exercício adicional e útil, mas não deve ser nunca o único método para atingir a autopercepção. Assim como lidar com as condições erradas exteriores do mundo de vocês nunca deve ser a única abordagem para a salvação de vocês e do seu mundo.


O vazio focado cresce, tanto propositada como espontaneamente, à medida que vocês eliminam obstáculos interiores. Nas etapas iniciais, vocês sentem apenas isso: vazio, nada. Se a sua mente conseguir aquietar-se, vocês encontram o vazio, por assim dizer. É isso que faz a tentativa tão assustadora. Parece confirmar a suspeita de que não há nada dentro de vocês, que na verdade vocês são apenas o eu exterior e mortal.


 Essa é a razão pela qual a mente se faz tão ocupada e tão cheia de

ruído – a intenção é encobrir a quietude que parece anunciar o nada. Mais uma vez, vocês precisam ter coragem para atravessar um túnel de incerteza. Vocês precisam correr o risco de permitir que se instale a grande quietude, que a princípio não tem significado, não tem nada que indique vida ou consciência.

Creio que a maioria de vocês já ouviu a voz do seu Deus interior, do eu superior, enviando suas inspirações através da mente, não necessariamente logo depois de uma meditação ou prece, mas muitas vezes mais tarde, quando vocês menos estão pensando naquilo. É então que a sua mente está suficientemente descontraída e suficientemente liberta da vontade do eu para permitir que o mundo interior se manifeste. 


Acontece a mesma coisa com relação a vivenciar o universo interior – o mundo real. 
O vazio focado colocará vocês em contato com todos os níveis do seu ser. Permite trazer à tona o que estava oculto – as distorções, os erros, o material do eu inferior e, conseqüentemente a realidade do seu eu superior e o vasto mundo de vida eterna que ele habita. É preciso passar por muitas etapas e fases. As últimas etapas somente podem ocorrer quando já houve alguma purificação e integração. O vazio não focado é um afrouxamento da consciência. 

O vazio focado é uma elevação da consciência. O primeiro é uma falta de sintonia, um vago perambular da mente que pode levar a um vazio sem sentido. O sono ou outros estados de inconsciência são as etapas finais. O vazio focado é extremamente concentrado, ciente, e totalmente presente.


Se o mundo interior for enfocado à exclusão do mundo exterior, vocês não criam apenas uma divisão, mas também uma situação em que se furtam ao propósito de sua encarnação. Como vocês podem cumprir sua tarefa, seja ela qual for, se não utilizarem o seu mundo para esse fim? Não teriam vindo para essa dimensão se isso não fosse necessário a vocês. Portanto, precisam fazer uso desse mundo e fazer com que as condições exteriores e interiores mantenham sempre uma relação significativa entre si. 


Vocês estão aprendendo a fazer isso neste caminho.Todas suas experiências se relacionam com sua personalidade e os vários níveis do ser. E o seu ser interior sempre reflete e cria as condições exteriores, que vocês logo aprendem a reconhecer. Se esse relacionamento entre o exterior e o interior não for um modo constante de vida, o desequilíbrio gera necessariamente condições erradas. 


Assim, vocês podem ver no seu mundo que às vezes uma pessoa que faz muitas boas obras externamente se extravia com tanta facilidade quanto aquelas que nunca pensam nos outros – talvez até mais, pois essa segunda categoria apresenta menor desequilíbrio. A boa intenção exterior e as boas obras requerem um foco interior para se evitar a condição de desarmonia e a divisão perigosa.


O vazio focado acaba trazendo a luz do Eterno. Talvez possamos classificar algumas etapas básicas, correndo o risco de excesso de simplificação. Na realidade, muitas vezes as etapas se sobrepõem e não ocorrem em nítida sucessão, como vou descrever para fins de esclarecimento.  Vocês percebem o ruído e a ocupação da mente.


Quando conseguem calar esse ruído, encontram o vazio, o nada. Reconhecimentos sobre o eu, ligações entre aspectos do eu e experiências externas, novo entendimento e níveis até então não reconhecidos do material do eu inferior tornam-se claros. Essa etapa é na verdade uma faceta da orientação divina e não uma simples percepção do eu inferior.


 O reconhecimento do eu inferior é sempre uma manifestação da orientação do eu superior. Há uma manifestação direta de mensagens do eu superior. É a isso que vocês dão o nome de abertura do canal. Vocês recebem conselhos, incentivo, palavras destinadas a dar-lhes coragem e fé. Nessa fase, a orientação divina ainda atua apenas através da sua mente. 


Não é necessariamente uma experiência total, emocional e espiritual. Essa manifestação pode animar e alegrar vocês, porém essa reação é um resultado do conhecimento que a mente absorveu e considerou convincente. Nessa etapa, ocorre uma experiência direta, total, espiritual e emocional. Todo o seu ser fica tomado pelo Espírito Santo. Vocês sabem, não indiretamente, através da mente, mas diretamente, através de todo seu ser. 


Saber através da mente, na realidade, é sempre um conhecimento indireto. É um conhecimento transmitido. A mente é o instrumento necessário para operar nesse nível de consciência. O conhecimento direto é diferente. Essa fase possui muitas subdivisões, muitos estágios. Há muitas possibilidades, ou melhor, um número ilimitado de possibilidades de experimentar o mundo real. Isso pode ocorrer simplesmente por meio do conhecimento total, que afeta todas as fibras do seu ser, todos os níveis da sua consciência. 


Pode ocorrer por meio de visões de outras dimensões, mas tais visões nunca são apenas coisas que se vêem. São sempre uma experiência total que afeta toda a pessoa. 
No mundo real, ao contrário do seu mundo fragmentado, toda percepção sensorial é total. Ver nunca é apenas ver, é simultaneamente ouvir, saborear, sentir, cheirar – e muitas outras percepções das quais vocês nada sabem no seu nível de ser. 

Nessa quinta etapa, ver, ouvir, perceber, sentir, saber incluem sempre todos os elementos. Abrangem todas as capacidades que Deus criou. E vocês mal podem imaginar a riqueza, a variedade, as possibilidades ilimitadas dessas capacidades.

O vazio focado é o estado ideal para o Espírito Santo preencher. O Espírito Santo é todo o mundo de Deus em todo o seu esplendor, em sua indescritível magnificência. 

Sua riqueza não pode ser traduzida em linguagem humana. Não há meio de descrever o que existe quando o medo, a dúvida, a desconfiança – e portanto o sofrimento, a morte e todo o mal -- são superados. O vazio focado, portanto, nada mais é senão o limiar de uma plenitude que existe unicamente no mundo do espírito.


A prática do vazio focado não deve ocorrer jamais com a esperança de obter resultados imediatos. De fato, é necessário não ter absolutamente nenhuma expectativa. A expectativa é uma tensão, e a tensão impede o estado de total descontração interior e exterior. Além disso, a expectativa é irrealista, pois pode levar muitas encarnações de desenvolvimento para que um ser humano consiga chegar perto dessas experiências. 


Assim, qualquer espécie de expectativa provoca decepções que, por sua vez, acionam uma reação em cadeia de novas emoções negativas, como dúvida, medo, desânimo, e assim por diante.


A razão porque estou falando sobre esse tema é a de prepará-los para uma importante prática de meditação. Já falei anteriormente sobre os diversos modos de meditação, principalmente com relação à impressão e expressão. 

Muitas de suas meditações lidaram com isso e devem continuar assim. Esse aspecto é uma limpeza da mente e seu uso como ferramenta construtiva. A ferramenta se torna um agente de criação. O aspecto de expressão começou a manifestar-se até certo ponto naqueles cujos canais estão abertos, talvez apenas ocasionalmente. Mas vocês precisam saber que há outras etapas, fases e possibilidades, e devem encará-las com paciência, respeito e humildade. 


Devem entender que essas experiências abrirão os vastos espaços interiores em que existem muitos mundos, muitos universos, muitas esferas, planícies e montanhas sem fim, mares de indescritível beleza. Vocês devem saber que esses espaços interiores não são abstrações nem expressões simbólicas, mas que são muito mais reais e acessíveis que o mundo exterior, o mundo objetivado, que vocês acreditam ser a única realidade existente. 


O espaço interior existe com base em medidas diferentes, uma medida diferente de relatividade tempo/espaço/movimento. Até mesmo sua consideração vaga e nebulosa sobre esse conceito mudará sua perspectiva e criará uma nova abordagem para novo trabalho no caminho.


Vocês não precisam passar horas praticando o vazio focado. Não é esse o propósito. Mas vocês podem procurar atingi-lo até certo ponto toda vez que orarem e meditarem, depois de usarem a mente para imprimir a substância da alma e alinhá-la ao intento divino. A meta primordial de vocês continua sendo atingir a autonomia, na mais ampla acepção da palavra. 


Vocês, como grupo, fizeram progressos nesse sentido, mas ainda há muito a ser realizado. Tudo depende desse pré-requisito básico de atingir a autonomia: a sua capacidade de respeitarem a si mesmos e descobrirem seus valores; a sua capacidade de amar e encontrar a satisfação pela qual anseiam, a realização da sua tarefa espiritual, razão de sua vinda à terra; de sua experiência do Deus vivo dentro de vocês e à sua volta; de sua habilidade de ser um verdadeiro líder bem como um seguidor, de sua capacidade de abandonar a mente e encontrar a paz interior, que é o seu verdadeiro lar e que por si só pode transmitir a vocês a vida eterna e assim eliminar todos os medos para sempre. 


Vocês não podem se render à vontade de Deus se não tiverem a si mesmos. Tampouco podem realmente encontrar a si mesmos e ser vocês mesmos se a entrega a Ele não for incondicional.


Como essa é uma necessidade fundamental, precisamos dedicar mais algum tempo à discussão desse tópico, apesar de eu já ter dito tanta coisa a esse respeito anteriormente. Mas ainda vejo, aqui e ali, tanta resistência a atingir esse importante estado de identidade autônoma. 


Vocês ainda anseiam por uma figura de autoridade que assuma as rédeas por vocês quando a vida fica perigosa, quando seus erros inevitáveis obrigam vocês a arcar com as conseqüências, quando suas inevitáveis imperfeições criam condições que vocês precisam vivenciar, explorar e entender perfeitamente em todos os níveis. 

Vocês ainda anseiam pela “vida perfeita” em que nada disso é necessário. Ainda nutrem a ilusão de que é possível evitar os erros e evitar pagar o preço por eles. Essa ilusão é perigosa, tanto mais porque é tão sutil que pode passar despercebida e ser negada. A manifestação dessa ilusão pode ser racionalizada – e portanto, também negada.


Sempre que vocês estão inseguros e confusos a respeito de si mesmos, de seu ambiente, dos acontecimentos à sua volta, é sinal de que ainda nutrem essa ilusão e, assim, evitam propositadamente crescer e atingir a identidade completa. Sempre que vocês se revoltam contra figuras de autoridades, é sinal certo de que ainda anseiam pela autoridade “certa”, a super pessoa que assume as vicissitudes da vida e, dessa forma, protege vocês de vivenciarem sua realidade.


Quando existe autonomia, não há necessidade alguma de revoltar-se contra a autoridade. Não há confusão alguma. Existe uma clara percepção do que é verdadeiro e do que é falso, e portanto pode haver acordo ou desacordo sem rebeldia ou submissão medrosa. O caminho para essa clareza e capacidade de discriminar é a capacidade e a vontade de pesquisar, questionar, investigar, abrir-se, explorar. 


Isso requer paciência e não respostas rápidas e prontas com relação a qualquer problema específico da vida de vocês. Mas a pessoa infantil e dependente abomina o caminho paciente da investigação e da descoberta, pois isso significa trabalho. A pessoa infantil e dependente quer respostas rápidas e fáceis, e portanto costuma tirar conclusões precipitadas. 


Quando existe o medo de errar, nem mesmo essas conclusões precipitadas podem ser questionadas, e uma insistência assim tão firme muitas vezes impede o caminho que leva à clareza e à verdade, e daí a confusão que engendra uma experiência proporcional. Se estiverem ausentes as ligações que explicam como foi criada essa experiência, a vida parece difícil e injusta demais; portanto, existe a exigência de uma autoridade perfeita.


Quando mais estridentes forem os seus protestos de independência, tanto mais essa estridência é suspeita. Quanto mais vocês precisarem provar que são pessoas livres, não influenciadas nem influenciáveis, maior a probabilidade de que abominem a verdadeira autonomia, que não queiram assumir plena responsabilidade por sua vida, suas experiências, suas decisões. 


Quanto maior a revolta contra as figuras de autoridade da sua vida, a quem vocês acusam de reprimir a sua identidade, tanto mais vocês, em segredo, se ressentem porque elas não correspondem às suas exigências.


Quais exatamente são essas exigências? São, como eu já disse, que vocês sejam impedidos de cometer erros, de precisar arcar com as conseqüências dos erros, distorções, negatividades, decisões insensatas. Vocês querem receber uma chave infalível que os equipe com uma espécie de magia, enquanto vocês continuam “livres”. Essa “liberdade” significa fazer o que quiserem, seja ou não desejável para o eu real ou para os outros. 


Vocês não querem passar por nenhuma frustração ou sujeitar-se à disciplina necessária. Quando essas metas não se concretizam, vocês ficam sentidos e culpam as figuras de autoridade exatamente do oposto daquilo que realmente esperavam delas.


 Especificamente, vocês as acusam de coibir a sua liberdade quando são determinados limites. Vocês se recusam a ver que esses limites são os limites da realidade, das leis da vida, e vocês (talvez inconscientemente) criam propositadamente uma confusão específica, distorcendo esses limites e fronteiras, como se implicassem uma escravização.


Peço que todos vocês explorem esse aspecto em si mesmos, se puderem constatá-lo, e descubram até que ponto ele ainda existe em vocês. Também façam a si mesmos algumas perguntas de profunda investigação. Vocês querem realmente assumir total responsabilidade por si mesmos, com tudo que isso implica? 


Vocês aceitam plenamente o fato de ainda serem imperfeitos, incapazes de evitarem erros? E estão, verdadeiramente, dispostos a pagar o preço por eles? Quanto mais dispostos estiverem, menores serão as conseqüências. As conseqüências se transformarão em um degrau do caminho, um limiar, uma lição necessária.

É somente da entrega à vontade de Deus que vem a força para fazer isso, a possibilidade de ficar no cerne da vida que se desenrola à sua volta, sem jamais fugir dela, sem jamais negá-la, sem jamais usar a espiritualidade como meio de fugir dela.


Todas as confusões dualistas se dissipam quando a entrega a Deus é autêntica e quando a disposição de ser uma pessoa autônoma é firme até o fim. Nesse caso, vocês não sentirão mais confusão em relação a individualidade em contraposição a comunidade, entrega do eu em contraposição a identidade e independência real. A verdadeira identidade cria um ser social que não destoa de seu ambiente. 


Pelo contrário, esse tipo de pessoa tem íntima relação com os outros e sempre contribui para a comunidade. A pessoa verdadeiramente autônoma pode ser um líder forte bem como um seguidor assumido, pois sua visão é clara e sua identidade está centrada na realidade divina.


Se vocês recapitularem as palestras que dei nesta temporada, vão descobrir uma observação sobre outra dimensão que não havia sido abordada anteriormente. Abri um novo horizonte para vocês, mesmo que ainda não sejam capazes de dar passos diretos para atingir esses estados. Mas, nesse momento, é importante vocês saberem que eles existem. 


O que mais impede vocês de passar por essas portas é exatamente o problema de ainda evitarem assumir responsabilidade total por si mesmos, a autonomia, a prestação de contas. A liberdade de vocês é diretamente dependente disso. A capacidade de se soltarem na força e não na fraqueza, depende disso.


É claro que a autonomia, ou a falta dela, é sempre uma questão de grau. Muitos de vocês são perfeitamente capazes de manter-se na vida no tocante a ganhar o próprio sustento. Podem fazer isso de maneira saudável e produtiva que portanto apreciam. Também podem ser realistas e aceitar que nessas questões sempre existem aspectos de dificuldade, de tédio, de luta. 


Vocês envidam os maiores esforços nessas épocas de dificuldade e em geral se empenham no trabalho. É exatamente por isso que são bem-sucedidos e sentem prazer no trabalho. Mas há muitas outras áreas, mais sutis, menos facilmente perceptíveis, em que vocês continuam querendo depender e não assumir seu próprio self. Cabe a vocês explorar essas áreas. 


O sinal é o que vocês sentem em relação às figuras de autoridade de sua vida, como vocês separam as pessoas em quem podem confiar e as que não merecem confiança. Para que lado pendem seus sentimentos? Acontece muitas vezes que seus sentimentos tendem precisamente para aqueles que não merecem confiança, enquanto vocês encaram com desconfiança aqueles que estimulam a sua autonomia e merecem sua confiança.


Se vocês não conseguirem confiar em si mesmos, jamais saberão quem é merecedor de confiança. E, naturalmente, vocês não poderão confiar em si mesmos se não souberem que parte de vocês merece confiança. É muito comum vocês quererem insistir que a parte mais infantil, mais destrutiva, mais míope do seu eu é a parte autônoma. Vocês querem acreditar que o que parece ser a linha de menor resistência e momentaneamente mais prazerosa, é também a sua autonomia. 


Às vezes pode ser mesmo, mas de jeito algum é assim sempre. Vocês só poderão confiar de fato em si mesmos quando aprenderem a ouvir à verdadeira autoridade interior que é capaz de dizer não a um prazer passageiro porque, a longo prazo, lhes frustará. 
A verdadeira maturidade, saúde e identidade são o pré-requisito de uma vida saudável, plenamente vivida e satisfatória. Constituem a fundação da realização espiritual. 

Sem esse estado, a espiritualidade mais cedo ou mais tarde acaba sempre apresentando alguma distorção, por mais bem intencionada que seja a pessoa no início da jornada.


Por outro lado, esse estado de saúde e autonomia não é viável por meios meramente psicológicos. Os psicólogos de vocês têm a idéia certa na cabeça e lutam para atingir esse objetivo na abordagem aos seus pacientes. 


Mas a menos que a pessoa aprenda que é preciso ouvir várias vozes interiores; a menos que uma escolha seja feita pela voz que deve merecer confiança ou rejeição; a menos que essas vozes sejam exploradas, o objetivo será para sempre enganoso e não passará de uma bela teoria. 

O que isso quer dizer é que a voz do eu superior, que muitas vezes é a mais fraca no princípio, precisa ser ouvida, em vez de se dar atenção apenas ao clamor barulhento daquela parte que não quer tolerar jamais nenhuma frustração.


Precisa ficar claro para vocês, queridos amigos, que somente uma comunidade formada por pessoas autônomas pode ser, como grupo, autônoma, segura e criativa. Na nova era, tudo pende para essa direção. Toda a sociedade de vocês pode ser transformada na medida em que mais e mais pessoas se desenvolverem dessa forma e atingirem a maturidade emocional, mental e espiritual. 


Quando toda a sociedade, pelo menos como atitude geral, apresentar valores que expressam esse estado, nem mesmo aqueles que vêm das esferas mais baixas, com intenções destrutivas e/ou 
ignorância espiritual serão capazes de fazer grandes estragos na terra. A influência deles vai se dissolver como a neve se derrete ao sol. Não é assim agora. 

É porque há pessoas demais suspirando por figuras de autoridade que tudo permitam e nada proíbam, que assumam todas as agruras da vida.


O contato profundo, intenso e realista com Cristo é possível de maneira expandida, mas apenas quando a personalidade humana encontra-se nesse estado. Caso contrário, o caminho fica bloqueado, a experiência é inacessível, as vozes são confusas. 


A entrega total a Deus se torna algo confuso. A vontade de render-se a uma falsa autoridade que permita tudo e não imponha nenhum limite à linha de menor resistência, que nunca imponha nenhuma frustração, a vontade de insistir nesse tipo de utopia, cria simultaneamente um medo interior naqueles cujo eu interior de alguma forma sabe dos perigos dessa rendição. 

Os mais fracos se rendem a falsos profetas, como diz a Bíblia. Aqueles que são um pouco mais fortes, em parte ainda nesse estado inacabado e em parte lutando pela verdadeira autonomia, temem a rendição de qualquer espécie. O que realmente lhes causa temor e desconfiança é seu próprio desejo de um falso profeta que promete o que nunca deveria prometer. 


Essas promessas podem não ser feitas tão explicitamente, mas estão implícitas em suas mensagens e atingem a consciência dos mais vulneráveis, devido à pouca vontade que têm de assumir a própria vida.

Assim, por mais que vocês queiram render-se à vontade de Deus e, portanto, à Sua orientação na forma que for dada a vocês, não é possível vencer a resistência a essa atitude, enquanto a identidade de vocês não estiver firmada em todas as áreas do ser. 

Do ponto de vista evolucionário, o espírito pode penetrar a matéria na medida em que a verdade espiritual, a lei espiritual, a saúde espiritual se instalam. A chave disso é a responsabilidade da pessoa por si mesma. 

Dessa forma o eu se fortalece e permite que o espírito e a vida penetrem ainda mais a matéria. Isso significa que mais espírito nasce na carne. Assim, vocês vão ver, ao crescerem em estatura pela aquisição da identidade, que uma parte maior do seu eu real passa a se manifestar fisicamente. Mais talentos, dos quais vocês até então nada sabiam, podem vir à tona. 

Subitamente manifesta-se uma nova sabedoria, um novo entendimento, uma nova capacidade de sentir e amar; conseqüentemente uma força até então insuspeitada evolve de vocês. Todas essas manifestações são o eu real que vive no espaço interior, o mundo real. Ao abrir espaço para esses aspectos, eles se inculcam na vida da matéria e vocês cumprem a sua parte no plano da evolução.


Essas atitudes não vêm de fora, não são algo acrescentado a vocês. Elas são o resultado de o eu exterior manifesto abrir espaço para o eu interior, ainda não manifesto. Isso acontece mediante o processo de crescimento, o trabalho árduo que vocês realizam neste caminho. E depois de um certo ponto do desenvolvimento, um fator que contribui para isso é o foco no vazio interior, até vocês descobrirem que o vazio é uma ilusão. 

É tamanha a plenitude, um mundo tão rico de glória, que vocês recebem tudo o que precisam dessa fonte interior, que também pode se transformar em experiência exterior. Cristo veio de muitas formas, muitas vezes na forma de diferentes pessoas iluminadas através das eras. Mas nunca Ele veio de forma tão plena e completa, tão sem entraves como em Jesus. 

Vejam que também é uma questão de grau o quanto de espírito pode fluir para a matéria, o quanto a matéria se livrou de obstruções de modo a permitir que o máximo de espírito, de vida, de consciência se manifestem como matéria. Chegará um momento da evolução em que a esfera que vocês agora habitam cederá tanto que a matéria se tornará completamente espiritualizada. 


A matéria deixará de ser uma obstrução para o espírito. O vazio ficará pleno de vida. Abordando o vazio sem medo, vocês também eliminam um obstáculo à vida. Focar o espaço interior significa, para começar, encarar o que parece ser o vazio. Através desse vazio vocês alcançam a plenitude de espírito, a totalidade da vida em sua forma pura e sem obstruções. 

Esse material de vida contém todas as possibilidades de expressões, de manifestações. A alegria de vivenciar essa realidade é maior que qualquer outra. Nessa alegria está a sua unidade com o Criador, onde vocês e Ele são de fato Um.


Vocês vêem, meus amigos, que nada na sua personalidade, nenhum aspecto dela, é insignificante em termos de criação e evolução. Não existe isso de algo ser “apenas um aspecto psicológico”. Toda atitude, todo modo de pensar, sentir, ser e reagir se reflete diretamente na sua participação no plano maior das coisas. Sabendo disso, talvez vocês achem mais fácil, uma vez mais, dar maior valor à sua vida, ao seu pathwork, aos seus esforços. 

Vocês vão aprender, uma vez mais, a unificar uma dualidade arbitrária: as preocupações espirituais versus as preocupações mundanas.

Abram espaço para a vida sem obstruções, para o espírito sem embaraços! Deixem que ele preencha todas as partes do seu ser, para que vocês finalmente saibam quem de fato são. Abençôo a todos vocês, queridíssimos amigos.


by Eva Broch Pierrakos
 1999 The Pathwork Foundation (An Unedited Lecture)
Palestra do Guia Pathwork nº 256
Palestra Não Editada
13 de dezembro de 1978


Fonte: http://pathworksp.com.br

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